A IMPORTÂNCIA DAS CADEIRAS NO DESENVOLVIMENTO DO GOLPE DE VISTA E NA SEGURANÇA DO JOGO DE CAPOEIRA

 
Dedicado a Guanais e Lemos, que me fizeram aprender o mecanismo de perda de consciência, desmaio, pela hipertensão intracraniana por compressão das veias jugulares no colar-de-força.[1]

Mestre Pastinha escreveu:

2.2.31 – …"eu não enventei[2]"…

… "eu não enventei;”…

…”eu vi e achei bom”…

… “e aprendi no circo[3] de cadeiras,”…

… “para aprender o jogo de dentro…"
(77a,11-b13)

… Nós todos vimos…

… achamos bom…

… aprendemos com os mais velhos!
 

… Pastinha acentua a importância…

… da proximidade entre os parceiros no jogo de capoeira…

… os antigos mestres usavam obstáculos…

…. círculo de cadeiras…

…  mesas…

… ou de ambos…

… para desenvolver a agilidade…

… e “golpe de vista”

.. indispensáveis à pratica da capoeira…

… especialmente no jogo de dentro..

… que simula a luta com arma branca!

HerPast p.77

Pastinha sabiamente acentua importância da proximidade entre os parceiros no jogo de capoeira e afirma que os antigos MESTRES usavam obstáculos periféricos, circundantes, circunvizinhos…

círculos de cadeiras

mesas …

luzes apagadas…

como usávamos eu e Guamais[4] em nossos treinos secretos…

olhos vendados, além  das luzes apagadas…

como fazíamos eu e Jose Sobrinho “Zezinho” em nossos treinos de Judô!

ou ambos meios…
 

Para desenvolver as percepções extra-sensoriais como em Ioga e Artes Marciais!

Esta referência de Vicente Ferreira Pastinha ao uso de seu Mestre das cadeiras para delimitar a área de movimento ou jogo e assim desenvolver a noção de localização espacial durante o preparo técnico do capoeirista é muito importante por que revela preocupação desde os tempos antigos com a localização espacial do capoeirista dentro do ambiente do jogo.

Desta maneira o capoeirista desenvolve um sexto – sentido e adquire noção e domínio do espaço restrito de jogo, perde o medo de se aproximar do parceiro-adversário, especialmente útil no jogo-de-dentro, e extremamente importante na criação de oportunidades de contra-ataque e ou bloqueio do uso de arma-branca, seja faca, punhal, estoque, facão, navalha, tesoura ou mesmo guarda-chuva, borduna, sombrinha, cadeira, banco, cacete, cassetete, quiçá garrafa de vidro ou panela.

 Reflexo utilíssimo no corpo-a-corpo, na prevenção de impacto sobre os assistentes ou circundantes e origem da sensação de coragem, segurança, autodomínio, autoestima, calma e autoconfiança tão característica do capoeirista.

O treino individual cercado por 4, 6 ou 8 cadeiras simulando outros tantos adversários aperfeiçoa o sentido de localização espacial, avaliação de distância e golpe-vista, extremamente importantes no jogo, na luta, no trabalho, no transito e no cotidiano.
 

Nos anos quarenta (do século passado…), depois das aulas e treinos currículo, Bimba me entregava a chave para abrir a Academia no dia seguinte às 5 horas da manhã e o nosso grupo (Guanais, cabo Néri, Lemos) para um treino de briga (vale-tudo) em ambiente fechado com cacetes e armas-brancas[5].

Treino com luz  apagada, cadeiras, mesas e bancos espalhados aleatoriamente pela sala, grupo de 3 amigos íntimos…

testados pelo Tempo…

verdadeiros…

confiáveis reciprocamente,

grupo excelente para aperfeiçoamento dos reflexos de esquiva e contra-ataque…

sem acidentes… nem incidentes

pelo dominância da esquiva sobre o ataque…

sem soltar golpes a esmo…

E a lembrança de Hector Caribé a recomendar…

A saída de salto mortal para trás..

Pela janela…

Quando acuado contra a parede…

Sem outra saída…

No andar térreo…

Naturalmente!

 Lembrando também…

Os treinos de Judô como Zezinho Sobrinho para adivinhar o que outro iria fazer…

Sem a proteção do tatami

No chão de cimento do pátio da casa de

Olhos vendados…

Sem lâmpadas acesas…

E Um sempre percebia…

O que o Outro ia fazer

Era o SEXTO-SENTIDO!


 

[1] Quando eu acordava já estava deitado no chão e aprendi a sacudir o corpo e jogar o agarrador à distância… Quanta saudade, amigos!

[2] Inventei

[3] Circulo

[4] Filho de índios, meu colega de curso ginasial, órfão de pai. Deixou de estudar para trabalhar para educar os seus irmãos mais jovens. dentre os quais destaco o docente de medicina Dr. Sócrates Guanais um dos fundadores do Hospital Cardio-Pulmonar. Grande homem! Maior e Melhor Amigo! Grande Professor!

[5] Navalhas, punhais, estoques, facas e facões.