O CORDÃO DE SÃO FRANCISCO E A CAPOEIRA ANGOLA ?

São Francisco ?
Cordão dos Angoleiros?

A pergunta de Carlos Henrique Pereira, Rondonópolis/MT:

“Caros amigos, antes de mais nada venho parabenizá-los pela home-page sobre capoeira que é uma arte que merece ser exposta ao mundo já que é a cara do brasil. venho através desta procurar ajuda de vossa parte para solucionar uma dúvida oriunda de um encontro de grupos de capoeira que se deu na cidade de rondonópolis-mt, a pouco. comentou-se que houve certa vez, pelos primeiros praticantes de capoeira angola, uma graduação por eles criada, e que se era utilizada cordas franciscanas para representá-la. aguardo ansioso resposta de vossa parte para podermos elucidar de vez esse assunto. agradecendo desde já a atenção recebida, subscrevo-me.
Carlos Henrique Pereira [email protected]
A resposta:
O estilo de capoeira conhecido como “angola” nasceu em 23 de fevereiro de 1941 com a fundação pelo Mestre Pastinha do “Centro Esportivo de Capoeira Angola” como podemos verificar no manuscrito abaixo reproduzido de autoria do próprio Mestre Pastinha.

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A. A. Decanio Filho (Organizador) – Manuscritos e Desenhos de Mestre Pastinha, Edição CEPAC, Salvador/BA (pg 3b)

Seus fundadores foram:

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A. A. Decanio Filho (Organizador) – Manuscritos e Desenhos de Mestre Pastinha, Edição CEPAC, Salvador/BA (pg 4a)

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A. A. Decanio Filho – A herança de Pastinha, Edição CEPAC, Salvador/BA

Os primeiros capoeiristas se diziam jogadore de capoeira, sem mais pretenções de categorias.
Os que aprendiam, como Totonho de Maré, apreciando as ‘brincadeiras”, “vadiação” ou “jogo” praticado pelos mais destros reunidos em em torno dum mais velho ou mais respeitado pela técnica, musicalidade, sabedoria ou idade, se diziam discípulos do “dono” da roda ou “mestre” (aquele que dirige, governa ou coordena o grupo de trabalho ou de diversão, em nosso linguajar popular).
Aqueles que aprendiam particularmente com alguém, mesmo que este não dirigisse um grupo ou roda, se diziam discípulo do mesmo e o chamavam de “mestre”.
Só existem, portanto, três categorias de praticantes: aprendizes ou alunos, jogadores ou capoeiristas e mestres.
Como o grupamento social era pequeno, todos se conheciam e eram chamados pelo nome ou apelido, sendo desnecesários uso de insígnias ou simbolos.
A capoeira era jogada como diversão em reuniões festivas, de modo semelhante aos sambas e batuques, com as vestimentas de trabalho ou de gala, com a preocupação de não sujar ou estraga-las.
Jamais, a partir do meu despertar para a capoeira, aos 7 anos de idade ou em 1930, ouvi falar em, nem vi, uso de cordões entre os capoeiristas antigos, mesmo depois da criação do estilo angola pelo Mestre Pastinha.
Pelo contrário, os seguidores de Mestre Pastinha, conhecidos como “angoleiros”, abjuram o uso de cordões e insígnias semelhantes.
O uso de fitas para expressar graduação foi proposto pelo Mestre Senna, aluno dissidente do Mestre Bimba, criador da capoeira “estilizada” (cujo verdadeiro significado até hoje desconheço) e de raizes no estilo “regional” de Mestre Bimba, hoje adotado pela maioria dos praticantes de “regional” moderna. Alegava Senna, que os escravos amarravam as calças com cordeis, sustituídos, na capoeira estilizada, pelas fitas de cores da bandeira brasileira, em paralelo ao sistema das artes marciais, às quais pretendeu incorretamente filiar a nossa capoeira da Bahia. Mestre Itapoan (Dr. Raimundo Cesar Alves de Almeida) adotou o cordão em substituição à fita de Senna.
Mestre Bimba, por sugestão nossa, adotou o uso de lenços coloridos para diferenciar as várias categorias de atletas e instrutores instituidas pelo anteprojeto de nossa autoria encaminhando à Confederação Brasileira de Pugilismo para regulamentação da capoeira como desporto na década de sessenta.

Angelo Augusto Decanio Filho, Salvador/BA, 24/12/98