Luciano Santos Bispo – Mola

Luciano Santos Bispo, residente em S. Francisco do Conde, discípulo de Mestre Zé Dário, é um capoeirista muito especial. Vítima de Paralisia Infantil aos 7 meses de idade, guardou como seqüela paraplegia flácida dos membros inferiores. Aos 9 anos de idade, ainda sem andar em virtude da paralisia dos membros inferiores, entrou para a capoeira sob orientação do Mestre Zé Dário, em Sto. Amaro da Purificação /BA e aprendeu a jogar capoeira e a andar !

Em 09/12/2001 fomos conduzidos ao evento, cujo convite divulgamos adiante, pelo Mestre Zezo estranhamos o drapejar da calça dum rapaz durante um jogo de capoeira, apesar da movimentação aparentemente normal do atleta. Maior surpresa foi observar que, ao sair da roda, o rapaz auxiliava a perna direita com a mão, para aumentar a passada, denunciando assim uma deficiência motora.

Autorizados pelo Mestre Zé Dário, abordamos o "Mola" que nos revelou os detalhes da sua historia pessoal e nos deixou profundamente impressionados pela grandeza e importância do verdadeiro milagre que constatáramos: a criação, pela prática da capoeira sob orientação dum verdadeiro mestre, de circuitos nervosos vicariantes capazes de substituir as conexões nervosas medulares destruídas pela Paralisia Infantil.

As fotografias seguintes mostram a gravidade da atrofia dos membros inferiores e da pelve decorrentes das lesões medulares provocadas pela paralisia infantil.

Foto – 1

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Foto – 2

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Nesta segunda foto podemos evidenciar a desproporção entre o tórax e o conjunto de bacia e membros inferiores, sendo notáveis as dimensões das mãos em relação aos pés. O amor do Mestre Dário pela capoeira e a dedicação à formação moral dos seus alunos evidencia-se no convite para o evento em pauta que reproduzimos a seguir.

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Destacamos mensagem de cidadania veiculada no convite acima, demonstrando que o amor do verdadeiro Mestre pelo Filho-Aluno é o fundamento da Roda de Capoeira e da Sociedade.

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Do relato acima concluímos que a Capoeira da Bahia é um instrumento precioso na formação do cidadão e apresenta uma gama extensa de aplicações médicas, psicológicas, pedagógicas e sobretudo, pela modificação da conduta ante estressores (Agentes nocivos, noxas, capazes de conduzir ao estresse ou reações de alarme), auxilia a reduzir o perigo deste "assassino silencioso", capaz de matar ou aleijar a longo prazo sob rótulos diversos (infarto do miocárdio, hipertensão arterial, quadros mentais depressivos, cansaço, exaustão, entre outros).

A compreensão do mecanismo pelo qual a capoeira aumenta a autoestima, acalma, educa as reações aos estímulos ambientais, aumenta as conexões e circuitos neuronais, enriquecendo o "Ser" com recursos capazes de torná-lo mais feliz e autoconfiante, certamente permitirá que os especialistas detectem novas aplicações para os conceitos acima expostos.

O conteúdo emocional do tema e sua repercussão na construção da personalidade do praticante torna-se evidente numa mensagem que recebemos da garota Juliane:

"Olá! gostei muito da sua página, e gostaria de parabenizá-lo.
Gostaria também que você dissesse que em Juiz de Fora (MG) o grupo de capoeira "Oficina da Capoeira" está fazendo um ótimo trabalho com a capoeira, com direção do mestre Ray e do professor Kamuanga.
Gostaria também de dizer e mandar uma idéia para todos os outros capoeiristas:
Ontem, dia 26/02/00, eu presenciei um exemplo de força de vontade para todos, principalmente os capoeiristas. Um garoto de cadeiras de rodas, com problemas mentais, entrando e jogando em um batizado. Não levantava, não chutava, não dava aú nem mortal, mas se protegia com a mão no rosto e quase não mexia os pés…
Bem, ele fez muita gente chorar quando disse: "Na capoeira ninguém pode ter preconceito!"
Naquela roda não havia ninguém igual a ele, mas também não tinha ninguém diferente! E depois disso tudo que vi e vivi, mais vontade me deu de jogar e de um dia jogar uma "iuna" (roda para graduados).
Sei que falta muito para mim, pois tenho 14 anos e estou na corda branca, mas um dia, eu sei, tenho fé em DEUS e em BIMBA, que irei conseguir.
Por favor fale ao menos do garoto, pois isso é verdade e uma lição de vida.

Juliane S. Machado (da família de Bimba)
Juiz de Fora / Minas Gerais
Oficina da Capoeira"

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